segunda-feira, 18 de maio de 2009

vasta ferida

Que eu sou fã de Chico Buarque de Holanda todos sabem...
Que me decepcionei com seus primeiros livros, também...
Mas, não resistindo , pois me é irresistível qualquer referência ao meu ídolo, eis que tenho em mãos seu último texto.
Já no segundo capítulo, lí uma frase que me fez parar.
"memória é uma vasta ferida".
Pronto. Foi o suficiente para começar a gostar da leitura.Aquela frase me acompanhou por muitos dias.
Que momento da minha vida, agora memória, se transformou em "vasta ferida "?
Comecei então a voltar no tempo.
Infância. Não, essa é uma memória rica de coisas boas, de privilégios, de risonhas descobertas.
Juventude. Ah, não! Nessa eu posso dizer que me esbaldei!!! Amigos, festas, namoros, modas, viagens. Uma verdadeira orgia de novidades.
Casamento. Bem, aí eu parei e me preocupei. Uma fase que marcou .
De um lado, a felicidade da maternidade, única, permanente. Do outro lado a certeza de que a escolha foi errada . A dificuldade de me ver infeliz.
O ir "jogando com a barriga". Até que tudo explodiu! Saí, fugí, corrí. Voltando à frase do Chico... Ficou uma "vasta ferida"? Hum...na verdade acho que ficou somente uma vasta cicatriz.
Solteira novamente.Nova mulher em todos os sentidos. Cheia de gás, trabalhando dobrado para conseguir pagar contas, ter tempo para a filha querida, namorados, "ficantes", amigos novos.Livre, leve e solta!!!!Nenhuma ferida, nenhuma cicatriz. Apenas os ensinamentos das experiências boas e ruins.
O grande encontro. O homem amado, e que amava.
Chego finalmente no momento atual e me vejo com vastas feridas.As perdas das pessoas que amei: irmão, homem e mãe.
É Chico, seu personagem tem razão.

Um comentário:

  1. Com certeza ele escreveu baseado em desilusao amorosa ou perda de entes queridos.

    Pensando assim e gostando cada vez mais de fazer novas amizades, tendo a ser um leproso.

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